Miyamoto Musashi foi um extraordinário guerreiro que sobreviveu a um dilema histórico na civilização japonesa para os guerreiros. Ele escreveu sua obra, “Go Rin No Sho”, em 1643 e nela usou técnicas educativas e métodos de aprendizado para representar seu papel atual na adaptação da cultura a um novo período histórico no Japão. A peculiaridade no seu papel específico como guerreiro nessa fase da história japonesa, residia no fato de que para ele a guerra deixara de existir e só havia restado somente funções administrativas e policiais no Japão nesta época.

Nessas condições, o caminho do guerreiro como meio de auto-aperfeiçoamento tornar-se-ia uma ameaça à sociedade. Para guerreiros como Musashi, essa necessidade de aperfeiçoamento como guerreiro, tornou-se uma obsessão de abater-se em duelos, já que não havia mais guerras.

Essa luta solitária, constituiu um grande fator na formação do pensamento de Musashi e sua obra sobre o guerreiro, com atenção particular aos detalhes estratégicos e à abordagem sistemática.

No seu “Livro dos cinco anéis”, Musashi ressalta a importância de discernimento perceptivo, não apenas no caminho do guerreiro, mas em todas as posições sociais para adquirir um compreensão objetiva dos mecanismos do senso de oportunidade e de sucesso. Compre aqui o livro dos cinco anéis.

Musashi tentou estabelecer uma base teórica e prática para completar a personalidade do guerreiro, sob a influência do zen-budismo e confucionismo. Na introdução do seu tratado sobre a estratégia e artes marciais, Musashi descreve um plano detalhado geral para evolução da mente do guerreiro como um todo:

  • Não pense desonestamente, pense no que é correto e verdadeiro.
  • Coloque a ciência em prática, o caminho está no treinamento.
  • Familiarize-se com todas as artes.
  • Familiarize-se com todos os ofícios, conheça o caminho de todas as profissões.
  • Perceba as qualidades positivas e negativas de tudo, distinguindo entre ganho e perda nas questões mundanas.
  • Desenvolva julgamento intuitivo e compreensão de todas as coisas, aprenda a ver tudo com cuidado.
  • Note aquelas coisas que não podem ser vistas, tomando consciência daquilo que não é obvio.
  • Preste atenção a tudo, mesmo aparentes baboseiras, sendo cuidadoso até mesmo nas pequenas questões.
  • Não faça nada que não tenha utilidade.

Dokudo – “O caminho da auto-confiança”

Em 12 de maio do ano de Soho (1645), Musashi recebia tratamento em sua residência no castelo de Chiba devido a uma enfermidade. Nesse período, ele escreveu e depois apresentou alguns artigos à amigos íntimos e seguidores. Esses artigos são conhecidos como dokudo ou dokkodo que significa “caminho da auto-disciplina”.

No documento original existem 21 frases que Musashi escreveu à seus futuros seguidores, mas os artigos estavam endereçados diretamente para seu aluno Magonojo Terao.

  1. Eu nunca ajo contrário à moralidade tradicional.
  2. Eu não sou parcial com nada e nem com ninguém.
  3. Eu nunca tento arrebatar um momento de sossego.
  4. Eu penso humildemente de mim e grandemente para o público.
  5. Sou inteiramente livre de ganância em toda minha vida.
  6. Eu nunca lamento o que já fiz.
  7. Eu nunca invejo a boa sorte dos outros, mesmo estando com má sorte.
  8. Eu nunca aflijo-me por qualquer um, qualquer coisa ou qualquer tempo.
  9. Eu nunca censuro ninguém, ou me censuro para alguém.
  10. Eu nunca sonho em apaixonar-me por uma mulher.
  11. Gostar e não gostar de algo, é um sentimento que não tenho.
  12. Qualquer que seja a minha moradia, eu não tenho nenhuma objeção à ela.
  13. Eu nunca desejo um alimento saboroso.
  14. Eu nunca tenho objetos antigos ou curiosos em meu poder.
  15. Eu nunca faço purificação ou abstinência para proteger-me do mal.
  16. Eu não tenho apreço por nenhum objeto, exceto espadas e outras armas.
  17. Eu nunca daria minha vida por uma causa injusta.
  18. Eu nunca desejo possuir bens que tornem minha velhice confortável.
  19. Eu adoro deuses e budas, mas nunca penso em depender deles.
  20. Eu prefiro me matar do que desonrar meu bom nome.
  21. Nunca, nem por um momento sequer, meu coração e minha alma desviaram-se do caminho da espada.

DOKKODO – Terao Magonojo – Genshin – Shoho (1645) Gogatsu 12 (12 de Maio) Shinmen Musashi

Niten Ichi Ryu

Geralmente os samurais seguravam a espada com as duas mãos, mas Musashi desenvolveu um estilo único de combate no qual segura-se duas espadas, uma curta e uma longa em cada mão. Seu estilo ficou conhecido como nito ichiryu (duas espadas, uma escola) ou niten ichiryu (dois céus, uma escola). Musashi dizia que o guerreiro não deve morrer sem antes ter usado suas armas. Entretanto, Musashi nunca usou as duas espadas em um duelo contra algum guerreiro habilidoso, somente usava as duas espadas quando enfrentava vários adversários ao mesmo tempo.

O Livro dos Cinco Anéis

Shinmen Musashi No Kami Fujiwara No Genshin
(1584 – 1645)

1584

Existem muitos mitos a cerca da verdadeira história de Miyamoto Musashi. Muitas passagens obscuras em sua vida nos levam a crer que ele tenha nascido presumivelmente, no ano de 1584 e pouco se sabe sobre a data e o local de nascimento. Musashi pode ter nascido, segundo algumas teorias, num vilarejo na cidade de Ohara (província de Mimasaka).

Seus antepassados são ramificações do poderoso clã Harima, da ilha de Kyushu. Hirada Shokan, seu avô, foi partidário da casa de Shinmen Iga, senhor do castelo Takeyama, e acabou casando com a filha de seu senhor. O pai de Musashi, Shimen Munisai, também serviu a família Shinmen que detinha o controle da província de Mimasaka.

Assim como o nascimento, pouco se sabe sobre a infância de Musashi. Dados confirmam que sua mãe, Omasa, morreu logo após dar a luz a Musashi em 1584. Sua madrasta Yoshiko, depois de se divorciar do marido, passa a cria-lo em Harima, junto com seus parentes. Musashi fazia visitas a Munisai, que lhe ensinava a arte na qual era mestre, o Jitte (arma utilizada para desarmar a espada). Desde criança, Musashi demonstrava extrema habilidade e um físico avantajado.

O relacionamento entre pai e filho não era muito bom, pois Munisai era muito áspero e rigoroso com o filho. Aos sete anos, seu pai morreu ou abandonou-o. (Algumas fontes dizem ainda que em 1591, Munisai foi trapaceado e morto por Ganruy Yoshitaka. Naquele tempo, pai e filho não se falavam e Musashi sentia culpa e precisava de vingança). Mas só o fato de Musashi não ter um relacionamento muito amigável com seu pai, pode ter sido um dos motivos do temperamento agressivo dele, que já era traumatizado em razão das centenas de cicatrizes na pele, provocadas por uma sífilis congênita.

Com a morte da madrasta, Musashi foi criado por um tio, por parte de mãe. Esse tio, um sacerdote budista, iniciou Musashi nas artes militares, no zen-budismo, xintoísmo (religião tradicional do Japão) e no Confucionismo.

1597

O primeiro duelo de Musashi, aconteceu aos 13 anos contra um famoso e habilidoso espadachim da escola Xintoísta Ryu Kenjutsu, de nome Arima Kihei. No dia antes do duelo, Musashi lê um aviso que dizia: “Quem quiser desafiar-me será aceito”. Musashi aceita e responde: “Eu desafiá-lo-ei amanhã”, deixando nome e endereço. Começando o duelo, Musashi ataca violentamente seu adversário derrubando-o no chão e golpeando-o na cabeça com uma espada de madeira. Kihei tombou morto vomitando sangue.

Três anos após o primeiro duelo, Musashi, agora com 16 anos, derrota Tadashima Akiyama. Nesse ano, o Xogum Toyotomi Hideyoshi morre e Mitsunari Ishida sucede sua posição que governava para o filho de Hideyoshi, Toyotomi Hideyori.

Musashi alistou-se nas forças do clã Ashikaga, aliado de Ishida, que brigava pelo poder do Japão contra as forças do general Tokugawa Ieyasu. Musashi participou da Batalha de Sekigarara que resultou na morte de cerca de 70 mil homens. Musashi lutou como soldado raso e sobreviveu a batalha mesmo estando na facção derrotada. Esse evento mudou sua vida. A partir daí, Musashi passou a vagar pelo país como um ronin (samurai sem um senhor para servir).

1605/1611

Aos 21 anos, Musashi vai para capital, Kyoto e lá desafia a família Yoshioka que servira, em determinada época, como instrutores de artes marciais do Xogum Ashikaga Yoshiaka por gerações. Diz-se também que Munisai, pai de Musashi, em outra época, havia sido convidado pelo Xogum Ashikaga para ir até Kyoto e lá enfrentou a família Yoshioka vencendo dois, de três duelos contra membros da família.

O primeiro da família a enfrentar Musashi, foi Yoshioka Seijuro, o líder do clã. O duelo aconteceu em uma área fora da cidade. Seijuro extraiu sua katana, enquanto Musashi portava um simples Bokken (espada de madeira). O golpe de Musashi dilacera o braço de Seijuro que, com a humilhante derrota, renuncia a vida de guerreiro cortando seu topete de samurai e decide nunca mais ensinar a arte da espada novamente.

Após sua vitória, Musashi, permaneceu na capital e esse comportamento irritou muito os Yoshiokas. Um outro duelo é feito, dessa vez por Denshichiro, irmão mais novo de Seijuro e segundo do clã a desafiar Musashi, que chega estrategicamente atrasado ao local do duelo que ocorreu na área do templo de Renge-o, um lugar famoso por competições de arqueiros e morada de milhares de estatuas de Kannon (Deusa da piedade e compaixão). Chegando quase três horas atrasado ao local do duelo, Musashi encontra seu adversário muito furioso e novamente com sua espada de madeira, derrota facilmente Denshichiro. Depois do início da luta, Musashi quebra o crânio do oponente que morreu imediatamente.

Após essa derrota, os Yoshiokas escolhem para enfrentar Musashi, Hanshichiro (ou Matashihiro), filho de Seijuro que tinha 11 ou 12 anos de idade. Acredita-se que a idéia era fazer uma emboscada e matar Musashi com a ajuda de todos os membros da academia Yoshioka. Musashi dessa vez muda a estratégia, chegando mais cedo ao local do duelo e escondendo-se por entre a área do “pinheiro solitário”.

Enquanto Hanshichiro (que estava desarmado) e os membros do clã que o protegiam, esperavam Musashi, eis que ele surge e surpreende os adversários, matando Hanshichiro e logo em seguida, enfrentando os inimigos com as duas espadas, uma em cada mão. Depois disso, Musashi foge, causando ferimentos e morte no grupo que tinha cerca de setenta homens. Esta foi a primeira vez que Musashi usa as duas espadas.

Depois desse episódio, Musashi tornou-se uma lenda viva no Japão daquela época e ele começa então suas viagens pelo Japão, conhecidas como Musha-Shugyo (peregrinação do guerreiro), enfrentando guerreiros de todos os tipos.

Em 1605, no Templo Hozoin, Musashi derrotou duas vezes (com sua espada de madeira) o principal aluno do templo, um renomado lanceiro de nome Oku Hozoin. Desde então, Oku havia derrotado todos os ronin que visitavam o templo. Musashi ainda permaneceu no templo durante um tempo, aprendendo técnicas de luta com os monges lanceiros, alem de participar de diálogos filosóficos com o mestre Zen Hoin Inei e com os outros monges do templo.

No final de 1605, em Edo (província de Akashi-harima), ocorre um lendário encontro entre Musashi e Muso Gonosuke (fundador da escola Jo). Wayne Muromoto escreveu um artigo sobre esse duelo inspirado numa obra não autenticada de nome KAIJO MONOGATARI de 1629. Segundo o artigo, Musashi teria enfrentado Gonosuke por duas vezes. Na primeira, Gonosuke usava uma Odachi (uma espada longa) e foi derrotado. Na revanche, Gonosuke usava uma nova arma, o Jô, um bastão de madeira de aproximadamente 120 centímetros, e nesse duelo, Gonosuke teria vencido, embora os dois, tanto Musashi quanto Gonosuke declaram enfaticamente que saíram derrotados do duelo, em razão de uma grande amizade surgida após a luta.

Na província de Iga, Musashi depara-se com um mestre de Kusari-gama (corrente com uma foice na ponta), de nome Shishido Baiken. Musashi derrota Baiken e seus discípulos. Passando pela província de Izumo, Musashi desafia e derrota o principal espadachim do senhor Matsudaira. O Senhor desafia Musashi, e sai derrotado. Depois Musashi passa uns tempos no castelo a pedido do senhor Matsudaira como sendo seu mestre.

1612

Em 1612, Musashi viaja à Ilha de Kyushu, e em Ogura (província de Bizen), permanece sob a proteção do Senhor Nagaoka Sado, daimyo de Kokura. Estando Sasaki Kojiro no castelo de Tadaoki Hosokawa, o senhor da província, o duelo entre Musashi e Ganryu Kojiro (como era conhecido Sasaki Kojiro) foi acertado para as 8 horas da manhã do dia 14 de Abril do mesmo ano em Funajima, uma ilhota na região de Kyushu, sul do Japão. Musashi some uma noite antes do duelo e a população julga ter ele se evadido do confronto. Como de costume, Musashi chega atrasado propositalmente ao local do duelo com o objetivo de irritar seu oponente. Na viagem de barco até a ilha de Funajima, Musashi esculpiu uma espada com o remo do barco. Estava despenteado e com uma aparência suja, surpreendendo a todos. Musashi saltou do barco e correu na direção de Kojiro que cortou a faixa que prendia o cabelo de Musashi. No mesmo instante, Musashi desferiu um golpe certeiro no crânio de Ganryu, que tombou morto no chão. Logo em seguida, Musashi teria brandido sua espada ao alto, com um forte grito de vitória. Acreditava-se que esse movimento teria sido mais uma investida de Musashi contra o espírito do inimigo, que ainda lutava, mesmo depois de morto.

Depois desse, que foi o principal e mais famoso duelo, Musashi desapareceu e viveu nas montanhas durante três anos. A partir de então, pouco se sabe sobre a vida do maior samurai de todos os tempos.

1615/27

Em 1615, começou o período de guerras entre o Xogum Ieyasu e os partidários de Osaka. Acredita-se que Musashi teria lutado ao lado das forças do Xogum Tokugawa no cerco aos partidários da família Ashikaga no castelo de Osaka e nas campanhas de inverno e verão, muito embora Musashi tenha lutado ao lado dos Ashikaga na Batalha de Sekigahara.

Após três anos, retorna a Kyoto com o menino Iori, seu filho adotivo de 13 anos de idade. Em outra época, Musashi havia encontrado o menino na província de Dewa e ficou espantado quando descobriu que a espada que o menino moía, serviria para cortar o corpo do pai morto, para poder enterra-lo. Musashi ajudou o menino a enterrar o pai e o tomou como seu discípulo.

Musashi abre em Kyoto sua primeira escola de esgrima. Depois, acredita-se que ele serviu a Ogasawara Tadanao , daimyo de Akashi, (província de Harima). Nesse período, Musashi dedicou-se ao Shodo (caligrafia), Cha-noyu (o caminho do chá) e pintura. Numa visita a província de Himeji, quatro retentores do daimyo desafiam-no. O primeiro a ser derrotado é Miyake Gunbei que foge depois do combate e seus seguidores admitem a superioridade de Musashi.

1632

Hosokawa Tadatoshi convida Musashi e Iori para uma estada em Edo. Mas assim que começa a rebelião de Shimabara, Musashi deixa o lugar.

Em 10 de Novembro de 1632 Musashi começa a escrever o Hyoho Sanjugo Kajo (35 artigos da estratégia) que é uma prévia do seu futuro livro, o Go Rin No Sho (O livro dos cinco anéis).

1634

Com Iori, Musashi se estabelece em Kokura em 1634. Ogasawara Tadasane é o novo senhor do castelo Kumamoto e da província de Bizen. Iori passa servir como chefe das forças armadas de Tadasane, que era simpático ao regime Tokugawa.

1637

Em 11 de Dezembro de 1637, começa uma rebelião provocada por camponeses cristãos em Shimabara. Os senhores das províncias do sul suportam uma rebelião de forças estrangeiras, e cristãos japoneses que vão contra a família Tokugawa. A família Ogasawara pede a cooperação de Musashi, mas este, apesar de ir contra sua vontade, acaba aceitando o pedido de ajuda e vai a Shimabara onde os cristãos são massacrados e Musashi participa da batalha apenas como convidado. Depois do incidente, O Xogum Tokugawa Iemitsu resolve fechar os portos japoneses a estrangeiros e essa decisão perdura por cerca de 200 anos.

1640

Em 1640, Musashi aceita o convite e permanece no castelo do daimyo Hosokawa Tadatoshi, em Kumamoto como mestre de artes marciais. Ali ele passou alguns anos ensinando esgrima, treinando caligrafia, pintando e fazendo esculturas. Suas obras são relíquias e algumas ainda podem ser vistas ainda hoje no Japão. Em Fevereiro de 1641, Musashi entrega a Tadatoshi, a pedido do próprio, os 35 artigos da arte da estratégia. Começou uma grande amizade entre os dois homens e Musashi permaneceu ao lado de Tadatoshi até sua morte.

1643

Em 1643, Musashi foi viver como ermitão numa caverna conhecida como Reigendo, localizada em Kumamoto. Dedicou-se a escrever o Go Rin No Sho (conhecido como ‘O livro dos cinco anéis’) uma obra clássica de Kendo, na qual foi dedicada a seu discípulo, Teruo Nobuyuki, algumas semanas antes de morrer.

Musashi morreu em Kumamoto no dia 19 de Maio de 1645 aproximadamente as 10 horas da manhã e foi enterrado na vila de Tenagajuge (província de Amata), no cemitério de Honmyoji, como desejava. Seus ossos foram levados até Miyamoto (Ohara) para ficar próximo ao túmulo de seus pais. Hosokawa Morishige, daimyo de Kumamoto gravou um memorial em uma lápide e colocou em Ohara marcando o local onde Musashi havia nascido. Em 19 de março de 1654, Iori termina o Musashi Yama, um monumento em Tamuke em memória do pai.

Hoje, em Miyamoto, o visitante pode ver a casa que Ogin (irmã mais velha de Musashi) viveu depois de casada, o santuário de Aramaki (aka Sanomo), onde acredita-se que observando o movimento dos cilindros do santuário, Musashi tenha se inspírado na criação da técnica com duas espadas (Niten Ichi Ryu). Lá encontra-se também o Museu Gorinbo em memória à Musashi, o santo da espada.

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Musashi nasceu para se tornar o maior samurai de todos os tempos.

Desde a sua primeira luta, prenunciando o que seria sua vida futura, aos treze anos de idade, conheceu o sabor da vitória. Suas lutas quase sempre terminavam com a morte do rival. Esses atos, aos nossos olhos, podem até parecer cruéis, mas para os samurai, a morte era encarada com naturalidade. Musashi foi concebido com glória da iluminação, por meio do Kendo, e com isso desenvolveu uma visão precisa da realidade, premiada com uma conduta digna e honrosa.

Miyamoto Musashi foi um mestre no caminho da espada, buscou a perfeição na arte da esgrima até sua fama alcançar as principais cortes do Japão. Criou um estilo de luta com duas espadas, chamado Niten Ichi Ryu e quando suas habilidades com suas espadas, longa e curta e com a lança tornaram-no invencível, o guerreiro mais temido de todo o Japão, retirou-se e se dedicou a escrever o livro Go Rin No Sho, O livro dos Cinco Anéis, um clássico da literatura japonesa, aonde deixa um legado de sua técnica às futuras gerações. Shimen Musashi no Kami Fushiwara no Genshin, teve inúmeros combates, o primeiro deles foi aos treze anos de idade, contra Arima Kihei, um samurai da escola xintoísta Ryu. Participou da batalha de Sekigahara, no qual sobreviveu ao massacre sobre sua facção derrotada e continuou trilhando o seu bushido.

Lutou contra a família Yoshioka. Seijuro, foi o primeiro da família a enfrentar Musashi, que empunhava uma espada de madeira, ao contrário de Seijuro, que portava uma espada de boa qualidade. Musashi derrubou e espancou Seijuro furiosamente. Após sua vitória, permaneceu na capital, esse comportamento irritou muito os Yoshiokas. Densichiro foi o segundo do clã a desafiar Musashi, que depois do início da luta quebrou o crânio do oponente que morreu imediatamente. Uma terceira luta foi proposta, agora contra Hansichiro, filho de Seijuro. Musashi chegou mais tarde ao local do duelo e se escondeu. O garoto havia chegado bem antes com um grupo de homens bem armados. Quando julgaram ter Musashi, se evadido do duelo, eis que ele surge e mata o menino. Depois, com suas duas espadas, causou ferimentos e mortes entre o grupo e fugiu, essa foi a primeira vez que Musashi usou as duas espadas simultaneamente.

Em 1605, após derrotar Oku Hozoin, monge discípulo de Hoin Inei, Musashi passou algum tempo estudando as técnicas dos sacerdotes lanceiros. Na província de Izumo, após derrotar o campeão local Matsudaria, permaneceu um tempo como professor desse senhor, mas o duelo mais famoso de Musashi, foi em 1612 em Ogura, província de Bunzen, contra Sasaki Kojiro, dono de uma técnica de esgrima conhecida como Tsubame-gaeshi. O local do duelo era uma ilha próxima de Ogura. Musashi, durante a viajem para chegar ao local, esculpiu uma espada a partir do remo existente no barco. Estava com uma aparência suja, pouco ortodoxa. Todos, inclusive Kojiro se surpreenderam com sua figura. Musashi correu sobre seu oponente que lançou a espada fora da bainha e em seguida se desfez da própria bainha. A partir daí, Musashi constatara a própria vitória. Com um golpe desferido pela sua espada feita do remo, Musashi abriu o crânio de Ganryu Kojiro, que caiu morto.

O duelo contra Muso Gonnosuke, um dos maiores manejadores do bastão de todos os tempos, foi um dos mais famosos também. Tanto Musashi como Gonnosuke, afirmam enfaticamente em seus livros que, no dia do duelo, foram derrotados um pelo outro, já que ninguém saiu vencedor desse duelo. Depois, Gonnosuke tornou-se um dos melhores amigos de Musashi, e criou o Bojutsu.

O livro Musashi, de Eiji Yoshikawa, foi o livro mais lido e mais vendido da história do Japão. Conta a história de Musashi em dois grossos volumes. A leitura deste livro nos leva a um grande entendimento da cultura japonesa.

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Bem como as espadas, as armaduras tiveram seu estilo importado da China e também sofreram mudanças conforme o período da história. Essas mudanças variavam também de acordo com o clã e o status do samurai. A armadura clássica do samurai, o yoroi, como também era conhecida a armadura japonesa, oferecia ao guerreiro, boa liberdade de movimentos e uma excelente proteção. Era formada por pequenas chapas de metal laqueado ligadas por cordas de seda ou couro, resistentes o suficiente ao corte de um katana por exemplo.

No princípio as armaduras foram feitas para serem usadas somente à cavalo, pois pesavam cerca de 30 kg e as mais pesadas chegavam a pesar 40 kg, o que era muito desvantajoso numa batalha a pé, por falta de flexibilidade. Mais tarde, as armaduras foram modificadas de modo que elas ficassem mais leves. Foram mantidos os cordões e os guerreiros samurais que lutavam a pé, passaram a usar uma indumentária mais simples chamada do-maru.

Dentre as armaduras produzidas, as mais conhecidas eram as chamadas yoroi, kachu, haramaki, do-maru e gusoku.

Partes da armadura samurai:

Suneate – Protetor de canela composto por duas lâminas verticais presas por juntas ou correntes e, geralmente, alinhadas com tecido. Haviam também lâminas de couro presas na parte inferior que ficavam em contato com o estribo na cavalgada.

Haidate – Protetor de coxas. Tipo de avental com a parte inferior sobreposta de lâminas de metal ou couro.

Yugake – Luvas feitas de pele de animal que poderiam ter um orifício na palma; acreditava-se ser o olho de um porco selvagem. A mão direita deveria ser colocada antes da esquerda.

Kote – Mangas feitas de diversos materiais, como tecido, couro, lâminas de metal, que serviam para proteger os antebraços e os punhos.

Do – Protetor de abdômen feito de lâminas. Existiam vários tipos de Do, alguns cobertos com placas de metal ou de bambu.

Kusazuri – Tipo de saia feita de lâminas de metal que servia para proteger a virilha e as coxas e era presa a um cinto de couro ou amarrada ao Do.

Uwa-obi – Cinto feito de linho ou algodão que amarrava o Do.

Sode – Protetor de ombros feito de lâminas de metal. Osode e Chosode eram tipos maiores usados somente por importantes oficiais.

Hoate – Máscara cujo modelo variava conforme o período. Um tipo específico de máscara ou viseira que cobria o nariz, o queixo e as bochechas era chamado de Mempo. Haviam seis diferentes estilos, alguns tinham bigodes ou aparência demoníaca.

Kabuto – Capacete com centenas de estilos diferentes que variavam conforme o período. Eles simbolizavam o poder e status do samurai e podiam ser adornados com chifres ou formas de monstros, o que dava uma aparência ainda mais assustadora.

A história dos samurais se confunde com a da espada japonesa, cujo surgimento data do século 5 d.C. com o desenvolvimento de espadas influenciadas por modelos chineses conhecidas como chokuto. Porem, conforme a transfiguração das batalhas, foi necessário mudar o estilo da espada para atender às necessidades dos guerreiros eqüestres. A lâmina ficou mais curva, longa e afiada, aumentando seu poder de corte. Essas espadas ficaram conhecidas com tachi. Com as mudanças nas espadas, estas adquiriram identidade própria, afastando-se dos modelos chineses, dando origem ao nome nihonto, que literalmente significa “espada japonesa”. No século 11, o nihonto, já havia adquirido seu estilo peculiarmente curvo e as espadas eram forjadas. Surgiu também um modelo de espada menor, com cerca de 30 centímetros, chamado tanto que servia como arma de apoio e era utilizada com apenas uma mão.

Com as invasões mongóis no século 13, percebeu-se certas falhas no tachi o que levou ao desenvolvimento de outros tipos de espadas. Na segunda metade do século 16, vieram os últimos ajustes na espada japonesa e a partir daí, os guerreiros passaram a carregar à cintura um conjunto de espadas conhecidas como Daisho, composto de uma espada longa de nome katana (a clássica espada samurai), que mede entre 60 e 80 centímetros e wakizashi (a espada curta) que mede em torno de 50 centímetros. Essas espadas eram o símbolo-distintivo da classe dos samurais ou bushi.

No início do período Tokugawa, o xogum realizou o recolhimento de todas as armas do país, deixando-as apenas para a classe dos bushi. Portar as duas espadas era sinal de poder e status da classe samurai nesse período que vai até o ano de 1876, quando foi instituída uma lei proibindo aos samurais o uso de espadas, promovida pelo Imperador Meiji. O novo regime que procurava unificar e reestruturar o Japão, concentrava-se na modernização do país, e os samurais perderam seus privilégios como o de carregar as duas espadas. Isso decretaria o fim da classe samurai. Ainda assim as espadas eram fabricadas e a maior parte delas eram usadas em cerimônias xintoístas, até que foram proibidas pelos Estados Unidos, de serem usadas e fabricadas, após a Segunda Guerra Mundial, quando foram destruídas cerca de 5 milhões de lâminas. Os americanos temiam essas armas e em 1953, foi suspensa a proibição da posse da espada.

Hoje a fabricação de espadas é controlada pelo governo japonês. Os forjadores devem ser registrados e para se tornar um, é preciso ser aprendiz de outro forjador por um determinado espaço de tempo. Além disso, o número de espadas fabricadas por cada cuteleiro é limitado. Dessa forma, hoje são produzidas lâminas com beleza e qualidade tão boas ou melhores do que as usadas pelos guerreiros samurais no antigo Japão.

A classe guerreira do Japão feudal conhecida como samurai (ou bushi), conseguiu fama por sua bravura, técnicas marciais, honra e por seu espírito inabalável diante da morte. Essa reputação se deve à um código de ética e conduta, seguido e vivido pelos guerreiros, conhecido como bushido.

Preceitos do Bushido:

GI – Justiça e Moralidade
Atitude direta, razão correta, decidir sem hesitar;

YU – Coragem
Bravura heróica;

JIN – Compaixão
Benevolência, simpatia, amor incondicional para com a humanidade;

REI – Polidez e Cortesia
Amabilidade;

MAKOTO – Sinceridade
Veracidade total, nunca mentir;

MEIYO – Honra
Glória;

CHUGO – Dever e Lealdade
Devoção, Lealdade.

O bushido oferece padrões que regem a vida do guerreiro samurai, principalmente no que diz respeito a honra e coragem. Para o samurai, morrer em uma batalha ou duelo, significa honrar o nome de sua família e de seus ancestrais. Falhar diante do dever de proteger seu senhor, era a maior desonra para o guerreiro, que não tinha outra escolha senão cometer o suicídio, conhecido como seppuku.

Harakiri ou Seppuku

Para evitar a desonra da captura ou a vergonha de sair vivo de um duelo quando derrotado, o samurai praticava um ritual chamado seppuku, que significa: suicídio ventral. No geral, segundo seu código de conduta, quando um samurai perdia sua honra de alguma forma, ele se via na obrigação de cometer o suicídio.

O harakiri, como também é chamado tal suicídio, se baseia numa morte lenta e dolorida, em que o samurai fincava uma pequena espada ao lado do abdômen e cortava o próprio ventre de uma ponta a outra. Porém, antes de atravessar o abdômen com uma lâmina, era feito todo um ritual, que ia desde a composição de um poema de morte por parte do samurai, até um banho de purificação do corpo e da alma. Depois o samurai se recostava num pequeno banco de modo que quando morresse, seu corpo não caísse pra trás. Pegava então sua espada curta ou uma adaga afiada e cortava o corpo na altura do abdômen, terminando por puxar a lamina pra cima. Era importante o samurai ter total auto-controle e não mostrar sinais de medo ou dor. Caso o samurai não tivesse mais agüentando a dor, um parente ou amigo íntimo entre os espectadores do ritual, empunhava uma espada e com ela, decepava a cabeça do samurai de modo que a espada não transpassasse totalmente o pescoço do samurai, deixando sua cabeça pendurada por uma fina camada de pele, para que ela não rolasse no chão.

Entretanto, o ritual nem sempre poderia ser seguido nesses detalhes. Nos campos de batalha por exemplo, pra evitar de ser capturado, o samurai derrotado apenas enfiava a espada em seu abdômen.

O suicídio tem um enorme valor no Japão, pois difere os samurais das outras castas guerreiras e prega o conceito de que mais vale a morte do que a desgraça de ter o próprio nome desonrado. Essa influência se vê ainda nos dias de hoje e um exemplo comum disso, são os pilotos kamikase da Segunda Guerra Mundial.

Em 1703, 47 ronin desafiaram o poder do xogun degolando o mestre de etiqueta, culpado pela morte do antigo amo deles. Em seguida, os ronin cometeram seppuku, tornando-se os mais reverenciados rebeldes do Japão inclusive nos dias de hoje.

Credo do Samurai

Autor desconhecido

Eu não tenho pais, faço do céu e da terra meus pais.
Eu não tenho casa, faço do mundo minha casa.
Eu não tenho poder divino, faço da honestidade meu poder divino.
Eu não tenho pretensões, faço da minha disciplina minha pretensão.
Eu não tenho poderes mágicos, faço da personalidade meus poderes mágicos.
Eu não tenho vida ou morte, faço das duas uma, tenho vida e morte.

Eu não tenho visão, faço da luz do trovão a minha visão.
Eu não tenho audição, faço da sensibilidade meus ouvidos.
Eu não tenho língua, faço da prontidão minha língua.

Eu não tenho leis, faço da auto-defesa minha lei.
Eu não tenho estratégia, faço do direito de matar e do direito de salvar vidas minha estratégia.
Eu não tenho projetos, faço do apego às oportunidades meus projetos.
Eu não tenho princípios, faço da adaptação a todas as circunstâncias meu princípio.
Eu não tenho táticas, faço da escassez e da abundância minha tática.

Eu não tenho talentos, faço da minha imaginação meus talentos.
Eu não tenho amigos, faço da minha mente minha única amiga.
Eu não tenho inimigos, faço do descuido meu inimigo.
Eu não tenho armadura, faço da benevolência minha armadura.
Eu não tenho castelo, faço do caráter meu castelo.
Eu não tenho espada, faço da perseverança minha espada.

No princípio, os samurais (traduzido para o português: “aquele que presta serviços”) serviram como soldados de milícia e guardiões da casa imperial japonesa. No ano de 1185, quando o mais poderoso dos clãs guerreiros da época estabeleceu um governo militar centralizado, após longos anos de guerras civis, os samurais tomaram efetivamente o poder como elite guerreira. Em 1192, Minamoto Yoritomo, declarou-se xogun (general supremo) dando início ao xogunato (ou bakufu) de Kamakura, o primeiro dos três regimes da era samurai, que iriam dominar a sociedade, a política e a cultura japonesa por longos 700 anos.

A forte presença militar que caracteriza a história nacional do Japão imprimiu determinados elementos do ‘ethos’ guerreiro em importantes esferas do pensamento e da sociedade japoneses, bem além do contexto da arte guerreira original. Ao longo de centenas de anos, os samurais foram não apenas mestres do destino político da nação, mas também foram considerados líderes da consciência popular. A moral e o espírito do guerreiro foram importantes tanto na sua influência sobre a sociedade como em seu poder material.

– THE JAPANESE ART OF WAR, Understanding the Culture of Strategy
Thomas Cleary

Antes, os samurais já tinham grande importância na sociedade japonesa, mas ainda não faziam parte do poder. No início do período Heian (794 a 1192) no Japão, “samurai” ou saburai (vem do verbo Saburau que significa “servir ao senhor”) eram aqueles que serviam no palácio da imperatriz e das comcubinas do soberano ou ainda príncipes regentes e ministros da Corte. Já se podia verificar a partir dessa época, a importância dos samurais na hierarquia, ficando acima de criados e servidores comuns. O termo “bushi” (guerreiro), apareceu como sinônimo de samurai pela primeira vez em registros do século 8 e já representava guerreiro adestrado nas artes militares, mas ainda não indicava um funcionário de um senhor feudal como nos anos que sucedem. O imperador estava no topo da cadeia de vassalagem no Japão. Porém, com o tempo, o trono imperial esvaziou-se de autoridade, ao passo que poderosos clãs de samurais se formaram pelo interior do país. Com a ascensão dos samurais, o imperador tornou-se figura decorativa. Entre 1180 e 1185 aconteceu a Guerra de Genpei, na qual o clã de Minamoto venceu o combate contra as tropas de Taira pelo controle do Japão.

No período kamakura, que vai de 1192 a 1333, os samurais passaram a ser os guardiões do novo regime, desempenhando funções como a cobrança de impostos aos camponeses e atividades militares como a de proteção.

Em 1338, Ashikaga Takauji nomeou-se xogun, tendo início o segundo xogunato conhecido como Ashikaga ou Muromachi. Nessa época, a insatisfação dos lavradores que altercavam a autoridade do governo e a criação do pagamento de diversas taxas, obrigou os samurais a se afastarem da zona rural, e prestarem serviços exclusivamente militares aos chamados Daimyo ou senhores feudais.

As ambições dos senhores feudais afloraram sob o reinado dos xoguns Ashikaga. No século 15 houve uma descentralização no feudalismo japonês, quando os clãs mais poderosos, começaram uma guerra entre si pela supremacia do poder no Japão. Esse período de lutas e conflitos que durou mais de 100 anos é conhecido como Sengoku Jidai, ou a Era dos Estados em Guerra e foi marcado pela revolta dos vassalos em relação aos seus senhores feudais.

A partir daí o feitio moral das batalhas mudou drasticamente. Milhares de samurais cruzaram o país para sitiar castelos. Fazendeiros se viram obrigados a combater como soldados e foi nesta época em que os ninjas ganharam grande importância nas lutas dos clãs. À medida que foi se alterando a configuração dos conflitos armados, sua postura modificou-se. Os samurais começaram como cavalheirescos guerreiros eqüestres, mas, com a crescente rivalidade entre os clãs, diante de exércitos cada vez maiores, passaram a ser treinados no combate corpo a corpo. As armas de fogo chegaram ao Japão em 1543 na época das navegações, trazidos por portugueses que haviam se desviado da rota para China. Os portugueses iniciaram um próspero comércio com os nipônicos e introduziram entre outras coisas, as armas de fogo. O Japão rapidamente aprendeu a tecnologia e em pouco tempo seus exércitos já estavam equipados com as armas. Em 1549, o cristianismo foi introduzidos por missionários estrangeiros e percebendo a rápida propagação, o xogun proíbe a atividade missionária, banindo o cristianismo e expulsando os portugueses. Em 1640 o Japão praticamente já estava isolado do resto do mundo.

Por volta de 1560 o Japão se encontrava no auge da guerra entre os feudos e nos 40 anos seguintes, o mais poderoso xogun de todos os tempos, Tokugawa Ieyasu, subiria ao poder e imporia a paz aos Daimyo, submetendo-os às suas necessidades e estabelecendo assim, uma unificação ao país. Antes de Ieyasu, dois grandes generais haviam tentado unificar o Japão, estes eram, Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi.

Batalha de Sekigahara

Em 21 de Outubro de 1600, aconteceu a mais famosa e importante batalha do Japão, a de Sekigahara, na qual o general Tokugawa Ieyasu e seu exército derrotaram os clãs rivais. Em 1603, Tokugawa tornou-se xogun e estabeleceu-se o xogunato Tokugawa, marcado por um governo dominador, autocrático e centralista.

Nos 250 anos que se seguiu, muitos samurais viraram aristocratas ociosos, subsidiados pelo Estado, ou, como não havia mais rivais, alguns samurais passaram a se dedicar a outras atividades como filosofia, literatura, caligrafia, cerimônia do chá. Neste último xogunato, os guerreiros samurais eram ao mesmo tempo, administradores públicos e funcionários militares do governo, alem de estarem instalados no topo de um rígido sistema de classes.

Em primeiro, vinha o samurai ou bushi, a classe mais alta. Somente esta podia portar duas espadas. Os samurais nessa época tinham o compromisso de defender o governo do xogun nos períodos turbulentos, em troca, recebiam anualmente uma pensão em arroz, medida em unidades chamadas koku e que eram pagas às custas dos impostos que recaíam sobre a colheita dos membros da segunda classe, os fazendeiros, que chegavam a dar 60% das safras de arroz, aos samurais. Em seguida, os artesãos, terceiro lugar nas classes, davam roupas, espadas, armaduras e saquê. Por último, os comerciantes, marginalizados pela elite, ocupavam o mais baixo estrato. O comportamento de cada classe era ditado por leis.

Ainda no período Tokugawa, os samurais passaram a enfrentar bastantes dificuldades com a pobreza. O custo de vida aumentou, diminuindo assim o valor do estipêndio em arroz a que o guerreiro tinha direito e a classe mercantil ganhava cada vez mais riquezas e poder. Muitos samurais arrumaram emprego como burocratas, professores de artes marciais, policiais e guarda-livros como meio de subsistência. Alguns tiveram até que vender a própria espada para se manterem.

O Japão era até então, um país isolado do mundo desde 1630. Em 1853 o navegador norte-americano Matthew Perry chegou à baía do Japão e exigiu a reabertura dos portos. O xogun percebeu que a abertura dos portos seria inevitável e assinou o tratado firmando pactos comerciais com outros países. Tal atitude foi vista como ato de fraqueza do xogun, provocando rebeliões de diversos clãs samurais, muitos deles contrários a Tokugawa.

Agindo em nome do imperador, há tempos esquecidos, os samurais rebeldes com apoio de comerciantes e fazendeiros insatisfeitos foram à luta contra as forças do xogun Tokugawa e o expulsaram do poder. O governo Meiji, nomeado pelo jovem imperador e composto de muitos samurais instruídos, impulsionou O Japão para um rápido processo de modernização, junto com o Ocidente. Em Janeiro de 1868 foi anunciada a restauração Meiji. As classes sociais foram logo abolidas, dessa forma, os samurais perderam seus privilégios como a remuneração por estipêndio e foram proibidos de usar as duas espadas.

Alguns samurais que haviam ajudado o imperador a chegar ao poder, se sentiram traídos, pois estes acreditavam que seria reinstalado um governo baseado na classe guerreira.

As habilidades militares dos samurais já haviam decaído e eram suplantados em riquezas por muitos comerciantes. Até que no fim dos anos 1860, as forças leais ao imperador, incluindo samurais descontentes, “derrubaram” a outrora indômita classe guerreira.

Muitos samurais se recusaram a se render e ao invés disso, cometeram o seppuku ou harakiri. Aos poucos, os próprios guerreiros perceberam que uma mudança de cunho-político-social seria necessária e aceitaram o sacrifício da extinção de sua classe. Alguns deles voltaram para o campo e outros foram para o comércio, indústria, funcionalismo público, policial e até forças armadas. Mas até hoje eles habitam o psiquismo japonês.

O termo samurai corresponde à elite guerreira do Japão feudal. A palavra samurai vem do verbo Saburai, que significa “aquele que serve ao senhor”. A classe dos samurais, dominou a história do Japão por cerca de 700 anos, de 1185 à 1867. E ao longo desse período, os samurais exerceram diferentes funções em determinadas épocas, passando de duelistas à soldados de infantaria da corte imperial, equipados inclusive com armas de fogo.

No início, os samurais realizavam atividades minoritárias tais como, as funções de cobradores de impostos e servidores da corte imperial. Com o passar do tempo, o termo samurai foi sancionado e os primeiros registros, datam do século X, situando-os ainda como guardiões da corte imperial, em Kyoto e como membros de milícias particulares a soldo dos senhores provinciais. Nessa época, qualquer cidadão poderia tornar-se um samurai. Este cidadão por sua vez, teria que se engajar nas artes militares para então, por fim, ser contratado por um senhor feudal ou daimyo, mas enquanto isso não acontecia, esses samurais, eram chamados de ronin.

Na Era Tokugawa (1603), quando os samurais passaram a constituir a mais alta classe social (bushi), não era mais possível à um cidadão comum, tornar-se samurai, pois o título “bushi”, começou a ser passado de geração em geração. Só um filho de samurai poderia tornar-se samurai e este tinha direito a um sobrenome. Desde o surgimento dos samurais, só estes tinham direito a um sobrenome, mas com a ascensão dos samurais como uma elite guerreira sob os auspícios da corte imperial, todos os cidadãos passaram a ter um sobrenome.

A partir desta época, a posição do samurai consolidou-se como um grupo seleto da sociedade. As armas e armaduras que usavam eram símbolos de distinção e a manifestação de ser um samurai. Porém para armar um samurai era necessário mais que uma espada e uma armadura. Parte de seu equipamento, era psicológico e moral; eram regidos por um código de honra muito precioso, o bushido (caminho do guerreiro), no qual a honra, lealdade e coragem eram os princípios básicos. A espada era considerada a alma do samurai. Todo bushi (nome da classe dos samurais), portava duas espadas presas ao Obi (faixa que segura o quimono), o katana (espada longa – de 60 a 90 cm) e wakisashi (de 30 a 60 cm), essas espadas eram o símbolo-distintivo do samurai.

Os samurais não tinham medo da morte, que era uma conseqüência normal e matar fazia parte de suas obrigações. Porém, deveriam morrer com honra defendendo seu senhor, ou defendendo a própria reputação e o nome de seus ancestrais. Se viessem a falhar ou cometessem um ato de desonra para si próprio, manchando o nome de seu senhor ou familiares, o samurai era ensinado a cometer o Harakiri ou Seppuku, ritual de suicídio através do corte do ventre.

Se um samurai perdesse o seu Daymio (título dado ao senhor feudal, chefe de um distrito) por descuido ou negligência na hora de defende-lo, o samurai era instruído a praticar o harakiri. Entretanto, se a morte do Daymio não estivesse relacionada à ineficiência ou falta de caráter do samurai, este se tornava um ronin, ou seja, um samurai que não tinha um senhor feudal para servir, desempregado. Isto era um problema, pois não conseguindo ser contratado por outro senhor e não tendo quem provesse seu sustento, freqüentemente tinha que vender sua espada para poder sobreviver ou se entregar ao bandidismo.

Nos campos de batalha assim como em duelos, os combatentes enfrentavam-se como verdadeiros cavalheiros. Na batalha, um guerreiro costumava galopar até a linha de frente inimiga para anunciar sua ascendência, uma lista de feitos pessoais, bem como as façanhas do seu exército ou de sua facção. Depois de encerrada tais bravatas é que os guerreiros atacavam-se. O mesmo acontecia num duelo. Antes de entrar em combate, os samurais se apresentavam, reverenciavam seus antepassados e enumeravam seus feitos heróicos para depois entrarem em combate.

Fora do campo de batalha, o mesmo guerreiro que colhia cabeças como troféu de combate era também um fervoroso budista. Membro da mais alta classe, empenhava-se em atividades culturais, como arranjos florais (ikebana), poesia, além de assistir a peças de teatro nô, uma forma de teatro solene e estilizada para a elite e oficiar cerimônias do chá, alguns se dedicavam a atividades artísticas tais como a escultura e a pintura.

Em seus castelos, os daimyo, patrocinavam saraus com pintores, dramaturgos e intelectuais. Assistiam a espetáculos privados de teatro nô. Os generais samurais praticavam caligrafia, arranjos florais e tocavam uma espécie de alaúde. Mas de todas essas atividades, a que mais os envolviam era a cerimônia do chá. Por volta do século XIII, monges zen-budistas introduziram os rituais do chá no Japão. A cerimônia do chá é uma atividade espiritual e durante o raro momento de trégua da guerra, os samurais vinham às salas de chá pra relaxar e apreciar o momento.

O estilo de vida e a tradição militar dos samurais dominaram a cultura japonesa durante séculos, e permanecem vivos no Japão até os dias de hoje. Milhões de crianças em idade escolar ainda praticam as habilidades clássicas do guerreiro, entre elas a esgrima (kendo), arco-e-flecha (kyudo) e luta corporal desarmada (jiu-jitsu, aikido). Estas e outras artes marciais, fazem parte do currículo de educação física no Japão atual.

Hoje o espírito samurai continua vivo na sociedade. Através desse espírito, que o Japão é hoje uma das maiores potencias mundiais.

O caminho do guerreiro é o caminho da pena e da espada, esse conceito vem do antigo Japão feudal e determinava que a nobreza (bushi) dominasse tanto a arte da guerra quanto a leitura, e que ele deve apreciar ambas as artes. O bushi deve aprender o caminho de todas as profissões, se informar sobre todos os assuntos, apreciar as artes e quando não estiver ocupado em suas obrigações militares, deverá estar sempre praticando algo, seja a leitura ou a escrita, armazenando em sua mente a história antiga e o conhecimento geral, comportando-se bem a todo momento para ter uma postura digna de um samurai, tudo isso sem desviar do verdadeiro caminho, o bushido.

A etiqueta deve ser seguida, todos os dias da vida cotidiana, assim como na guerra pelos samurais. Sinceridade e honestidade são as virtudes que avaliam suas vidas. Transcender um pacto de fidelidade completa e confiança esta ligado à dignidade. Os samurais também precisavam ter autocontrole, desapego e austeridade para manter sua honra, em função disso, podemos dizer que o samurai é o guerreiro completo e seu código de honra – o bushido – tem forte influência no estilo de vida do povo japonês e oferece uma explicação do caráter e da indomável força interior desse povo.

Para o bushido, o caminho do guerreiro exige que a conduta de um homem seja correta em todos os sentidos, dessa forma, a preguiça é um mal que deve ser abominado. Mas existe problemas quando a pessoa se apóia no futuro, pois torna-se preguiçosa e indolente, já que deixam pra amanhã, aquilo que poderia ser feito hoje. Pessoas que agem dessa maneira, não seguem o verdadeiro preceito do bushido, que de um modo geral, é a aceitação resoluta da morte.

“Um samurai deve antes de tudo ter sempre em mente, dia e noite, desde a manhã de ano novo, quando pega os palitos para tomar café, até a noite do último dia do ano, quando paga suas faturas, o fato de que um dia irá morrer. Essa é a sua principal tarefa”. – Bushido O Código Do Samurai – Daidoji Yuzan.

Se o guerreiro tem plena consciência da morte, evitará conflitos, estará livre de doenças, além de ter uma personalidade com muitas qualidades e diferenciada às dos demais seres humanos. O guerreiro vive o presente sem se preocupar com o amanhã, de modo que quando contempla o rosto das pessoas, sente como se nunca mais fosse vê-los novamente, e portanto, seu dever e consideração as pessoas, serão profundamente sinceros. O verdadeiro guerreiro é aquele que aceita a morte, dessa maneira, ele não irá se meter em discussões desnecessárias que venham a provocar um conflito maior, já que assim ele pode acabar sendo morto, e isso talvez resultaria na sua desonra ou afligiria a reputação e nome de sua família. Se a idéia de morte é mantida, será cuidadoso e suscetível de ser discreto e não dirá coisas que ofendam às outras pessoas. Também não cometerão excessos doentios com a comida, bebida e sexo, usando moderação e privação em tudo, permanecendo livre de doenças e mantendo uma vida saudável.

O guerreiro deve arder com a morte em desespero. “Naoshige disse uma vez: – O bushido significa a morte em desespero. Várias dezenas de samurais sadios não podem matar um único samurai (que arda com essa morte em desespero). Homens sadios, de mente calmamente bem-compostas não podem realizar um grande empreendimento. Você só precisa ficar desesperado a ponto de morrer. Se a discrição e a consideração do momento fundem-se com seu bushido, você na certa hesitará e ficará aquém de sua espreita”. – Bushido: O Caminho do Samurai – Tsuramoto Tashiro.

Resumindo, bushi é aquele que segue o caminho do guerreiro. Miyamoto Musashi disse uma vez: – Os homens devem moldar seu caminho. A partir do momento em que você ver o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o caminho.

Literalmente traduzido, Bushido significa “Caminho do Guerreiro”, sendo “bushi” igual a guerreiro e “do” igual a caminho. Neste sentido, o ideograma para caminho, em japonês, é equivalente à forma chinesa “Tao”, e exprime o conceito filosófico de absoluto. Este conceito traz a idéia de origem, princípio e essência de todas coisas.

“O bushido, significa a vida total do guerreiro, sua devoção a espada, seu respeito às normas ditadas pelo Confucionismo. Não é apenas um sistema de ética a ser seguido pelas classes sociais. É a estrada do cosmo, os vestígios sagrados dos Céus, apontando o Caminho”. – O Livro Dos Cinco Anéis.

No geral, guerreiro é aquele que busca seu próprio caminho. Muitas pessoas podem estar perfeitamente buscando o caminho sem saber disso. Guerreiro é a pessoa que tem um objetivo, e que por meio deste, passa a ter consciência de seu dom e suas limitações. Através dessa consciência, o guerreiro atinge sua meta, combinada com a vontade de vencer fraquezas, temores e limitações.

Cada pessoa trilha seu próprio caminho, já que existem vários caminhos como o caminho da cura pelo médico, o caminho da literatura pelo poeta ou escritor, e muitas outras artes e habilidades. Cada pessoa pratica de acordo com a sua inclinação. Por isso pode-se chamar de guerreiro, aquele que segue seu caminho específico.

Porém, no bushido, a palavra guerreiro significa muito mais do que isso. O termo bushi não pode ser designado a qualquer um. O bushi é diferente, pois seus estudos do caminho baseiam-se em superar os homens. A casta guerreira se distingue das demais por sua fidelidade e honra, a palavra do guerreiro vale mais do que tudo.