No princípio, os samurais (traduzido para o português: “aquele que presta serviços”) serviram como soldados de milícia e guardiões da casa imperial japonesa. No ano de 1185, quando o mais poderoso dos clãs guerreiros da época estabeleceu um governo militar centralizado, após longos anos de guerras civis, os samurais tomaram efetivamente o poder como elite guerreira. Em 1192, Minamoto Yoritomo, declarou-se xogun (general supremo) dando início ao xogunato (ou bakufu) de Kamakura, o primeiro dos três regimes da era samurai, que iriam dominar a sociedade, a política e a cultura japonesa por longos 700 anos.

A forte presença militar que caracteriza a história nacional do Japão imprimiu determinados elementos do ‘ethos’ guerreiro em importantes esferas do pensamento e da sociedade japoneses, bem além do contexto da arte guerreira original. Ao longo de centenas de anos, os samurais foram não apenas mestres do destino político da nação, mas também foram considerados líderes da consciência popular. A moral e o espírito do guerreiro foram importantes tanto na sua influência sobre a sociedade como em seu poder material.

– THE JAPANESE ART OF WAR, Understanding the Culture of Strategy
Thomas Cleary

Antes, os samurais já tinham grande importância na sociedade japonesa, mas ainda não faziam parte do poder. No início do período Heian (794 a 1192) no Japão, “samurai” ou saburai (vem do verbo Saburau que significa “servir ao senhor”) eram aqueles que serviam no palácio da imperatriz e das comcubinas do soberano ou ainda príncipes regentes e ministros da Corte. Já se podia verificar a partir dessa época, a importância dos samurais na hierarquia, ficando acima de criados e servidores comuns. O termo “bushi” (guerreiro), apareceu como sinônimo de samurai pela primeira vez em registros do século 8 e já representava guerreiro adestrado nas artes militares, mas ainda não indicava um funcionário de um senhor feudal como nos anos que sucedem. O imperador estava no topo da cadeia de vassalagem no Japão. Porém, com o tempo, o trono imperial esvaziou-se de autoridade, ao passo que poderosos clãs de samurais se formaram pelo interior do país. Com a ascensão dos samurais, o imperador tornou-se figura decorativa. Entre 1180 e 1185 aconteceu a Guerra de Genpei, na qual o clã de Minamoto venceu o combate contra as tropas de Taira pelo controle do Japão.

No período kamakura, que vai de 1192 a 1333, os samurais passaram a ser os guardiões do novo regime, desempenhando funções como a cobrança de impostos aos camponeses e atividades militares como a de proteção.

Em 1338, Ashikaga Takauji nomeou-se xogun, tendo início o segundo xogunato conhecido como Ashikaga ou Muromachi. Nessa época, a insatisfação dos lavradores que altercavam a autoridade do governo e a criação do pagamento de diversas taxas, obrigou os samurais a se afastarem da zona rural, e prestarem serviços exclusivamente militares aos chamados Daimyo ou senhores feudais.

As ambições dos senhores feudais afloraram sob o reinado dos xoguns Ashikaga. No século 15 houve uma descentralização no feudalismo japonês, quando os clãs mais poderosos, começaram uma guerra entre si pela supremacia do poder no Japão. Esse período de lutas e conflitos que durou mais de 100 anos é conhecido como Sengoku Jidai, ou a Era dos Estados em Guerra e foi marcado pela revolta dos vassalos em relação aos seus senhores feudais.

A partir daí o feitio moral das batalhas mudou drasticamente. Milhares de samurais cruzaram o país para sitiar castelos. Fazendeiros se viram obrigados a combater como soldados e foi nesta época em que os ninjas ganharam grande importância nas lutas dos clãs. À medida que foi se alterando a configuração dos conflitos armados, sua postura modificou-se. Os samurais começaram como cavalheirescos guerreiros eqüestres, mas, com a crescente rivalidade entre os clãs, diante de exércitos cada vez maiores, passaram a ser treinados no combate corpo a corpo. As armas de fogo chegaram ao Japão em 1543 na época das navegações, trazidos por portugueses que haviam se desviado da rota para China. Os portugueses iniciaram um próspero comércio com os nipônicos e introduziram entre outras coisas, as armas de fogo. O Japão rapidamente aprendeu a tecnologia e em pouco tempo seus exércitos já estavam equipados com as armas. Em 1549, o cristianismo foi introduzidos por missionários estrangeiros e percebendo a rápida propagação, o xogun proíbe a atividade missionária, banindo o cristianismo e expulsando os portugueses. Em 1640 o Japão praticamente já estava isolado do resto do mundo.

Por volta de 1560 o Japão se encontrava no auge da guerra entre os feudos e nos 40 anos seguintes, o mais poderoso xogun de todos os tempos, Tokugawa Ieyasu, subiria ao poder e imporia a paz aos Daimyo, submetendo-os às suas necessidades e estabelecendo assim, uma unificação ao país. Antes de Ieyasu, dois grandes generais haviam tentado unificar o Japão, estes eram, Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi.

Batalha de Sekigahara

Em 21 de Outubro de 1600, aconteceu a mais famosa e importante batalha do Japão, a de Sekigahara, na qual o general Tokugawa Ieyasu e seu exército derrotaram os clãs rivais. Em 1603, Tokugawa tornou-se xogun e estabeleceu-se o xogunato Tokugawa, marcado por um governo dominador, autocrático e centralista.

Nos 250 anos que se seguiu, muitos samurais viraram aristocratas ociosos, subsidiados pelo Estado, ou, como não havia mais rivais, alguns samurais passaram a se dedicar a outras atividades como filosofia, literatura, caligrafia, cerimônia do chá. Neste último xogunato, os guerreiros samurais eram ao mesmo tempo, administradores públicos e funcionários militares do governo, alem de estarem instalados no topo de um rígido sistema de classes.

Em primeiro, vinha o samurai ou bushi, a classe mais alta. Somente esta podia portar duas espadas. Os samurais nessa época tinham o compromisso de defender o governo do xogun nos períodos turbulentos, em troca, recebiam anualmente uma pensão em arroz, medida em unidades chamadas koku e que eram pagas às custas dos impostos que recaíam sobre a colheita dos membros da segunda classe, os fazendeiros, que chegavam a dar 60% das safras de arroz, aos samurais. Em seguida, os artesãos, terceiro lugar nas classes, davam roupas, espadas, armaduras e saquê. Por último, os comerciantes, marginalizados pela elite, ocupavam o mais baixo estrato. O comportamento de cada classe era ditado por leis.

Ainda no período Tokugawa, os samurais passaram a enfrentar bastantes dificuldades com a pobreza. O custo de vida aumentou, diminuindo assim o valor do estipêndio em arroz a que o guerreiro tinha direito e a classe mercantil ganhava cada vez mais riquezas e poder. Muitos samurais arrumaram emprego como burocratas, professores de artes marciais, policiais e guarda-livros como meio de subsistência. Alguns tiveram até que vender a própria espada para se manterem.

O Japão era até então, um país isolado do mundo desde 1630. Em 1853 o navegador norte-americano Matthew Perry chegou à baía do Japão e exigiu a reabertura dos portos. O xogun percebeu que a abertura dos portos seria inevitável e assinou o tratado firmando pactos comerciais com outros países. Tal atitude foi vista como ato de fraqueza do xogun, provocando rebeliões de diversos clãs samurais, muitos deles contrários a Tokugawa.

Agindo em nome do imperador, há tempos esquecidos, os samurais rebeldes com apoio de comerciantes e fazendeiros insatisfeitos foram à luta contra as forças do xogun Tokugawa e o expulsaram do poder. O governo Meiji, nomeado pelo jovem imperador e composto de muitos samurais instruídos, impulsionou O Japão para um rápido processo de modernização, junto com o Ocidente. Em Janeiro de 1868 foi anunciada a restauração Meiji. As classes sociais foram logo abolidas, dessa forma, os samurais perderam seus privilégios como a remuneração por estipêndio e foram proibidos de usar as duas espadas.

Alguns samurais que haviam ajudado o imperador a chegar ao poder, se sentiram traídos, pois estes acreditavam que seria reinstalado um governo baseado na classe guerreira.

As habilidades militares dos samurais já haviam decaído e eram suplantados em riquezas por muitos comerciantes. Até que no fim dos anos 1860, as forças leais ao imperador, incluindo samurais descontentes, “derrubaram” a outrora indômita classe guerreira.

Muitos samurais se recusaram a se render e ao invés disso, cometeram o seppuku ou harakiri. Aos poucos, os próprios guerreiros perceberam que uma mudança de cunho-político-social seria necessária e aceitaram o sacrifício da extinção de sua classe. Alguns deles voltaram para o campo e outros foram para o comércio, indústria, funcionalismo público, policial e até forças armadas. Mas até hoje eles habitam o psiquismo japonês.

O termo samurai corresponde à elite guerreira do Japão feudal. A palavra samurai vem do verbo Saburai, que significa “aquele que serve ao senhor”. A classe dos samurais, dominou a história do Japão por cerca de 700 anos, de 1185 à 1867. E ao longo desse período, os samurais exerceram diferentes funções em determinadas épocas, passando de duelistas à soldados de infantaria da corte imperial, equipados inclusive com armas de fogo.

No início, os samurais realizavam atividades minoritárias tais como, as funções de cobradores de impostos e servidores da corte imperial. Com o passar do tempo, o termo samurai foi sancionado e os primeiros registros, datam do século X, situando-os ainda como guardiões da corte imperial, em Kyoto e como membros de milícias particulares a soldo dos senhores provinciais. Nessa época, qualquer cidadão poderia tornar-se um samurai. Este cidadão por sua vez, teria que se engajar nas artes militares para então, por fim, ser contratado por um senhor feudal ou daimyo, mas enquanto isso não acontecia, esses samurais, eram chamados de ronin.

Na Era Tokugawa (1603), quando os samurais passaram a constituir a mais alta classe social (bushi), não era mais possível à um cidadão comum, tornar-se samurai, pois o título “bushi”, começou a ser passado de geração em geração. Só um filho de samurai poderia tornar-se samurai e este tinha direito a um sobrenome. Desde o surgimento dos samurais, só estes tinham direito a um sobrenome, mas com a ascensão dos samurais como uma elite guerreira sob os auspícios da corte imperial, todos os cidadãos passaram a ter um sobrenome.

A partir desta época, a posição do samurai consolidou-se como um grupo seleto da sociedade. As armas e armaduras que usavam eram símbolos de distinção e a manifestação de ser um samurai. Porém para armar um samurai era necessário mais que uma espada e uma armadura. Parte de seu equipamento, era psicológico e moral; eram regidos por um código de honra muito precioso, o bushido (caminho do guerreiro), no qual a honra, lealdade e coragem eram os princípios básicos. A espada era considerada a alma do samurai. Todo bushi (nome da classe dos samurais), portava duas espadas presas ao Obi (faixa que segura o quimono), o katana (espada longa – de 60 a 90 cm) e wakisashi (de 30 a 60 cm), essas espadas eram o símbolo-distintivo do samurai.

Os samurais não tinham medo da morte, que era uma conseqüência normal e matar fazia parte de suas obrigações. Porém, deveriam morrer com honra defendendo seu senhor, ou defendendo a própria reputação e o nome de seus ancestrais. Se viessem a falhar ou cometessem um ato de desonra para si próprio, manchando o nome de seu senhor ou familiares, o samurai era ensinado a cometer o Harakiri ou Seppuku, ritual de suicídio através do corte do ventre.

Se um samurai perdesse o seu Daymio (título dado ao senhor feudal, chefe de um distrito) por descuido ou negligência na hora de defende-lo, o samurai era instruído a praticar o harakiri. Entretanto, se a morte do Daymio não estivesse relacionada à ineficiência ou falta de caráter do samurai, este se tornava um ronin, ou seja, um samurai que não tinha um senhor feudal para servir, desempregado. Isto era um problema, pois não conseguindo ser contratado por outro senhor e não tendo quem provesse seu sustento, freqüentemente tinha que vender sua espada para poder sobreviver ou se entregar ao bandidismo.

Nos campos de batalha assim como em duelos, os combatentes enfrentavam-se como verdadeiros cavalheiros. Na batalha, um guerreiro costumava galopar até a linha de frente inimiga para anunciar sua ascendência, uma lista de feitos pessoais, bem como as façanhas do seu exército ou de sua facção. Depois de encerrada tais bravatas é que os guerreiros atacavam-se. O mesmo acontecia num duelo. Antes de entrar em combate, os samurais se apresentavam, reverenciavam seus antepassados e enumeravam seus feitos heróicos para depois entrarem em combate.

Fora do campo de batalha, o mesmo guerreiro que colhia cabeças como troféu de combate era também um fervoroso budista. Membro da mais alta classe, empenhava-se em atividades culturais, como arranjos florais (ikebana), poesia, além de assistir a peças de teatro nô, uma forma de teatro solene e estilizada para a elite e oficiar cerimônias do chá, alguns se dedicavam a atividades artísticas tais como a escultura e a pintura.

Em seus castelos, os daimyo, patrocinavam saraus com pintores, dramaturgos e intelectuais. Assistiam a espetáculos privados de teatro nô. Os generais samurais praticavam caligrafia, arranjos florais e tocavam uma espécie de alaúde. Mas de todas essas atividades, a que mais os envolviam era a cerimônia do chá. Por volta do século XIII, monges zen-budistas introduziram os rituais do chá no Japão. A cerimônia do chá é uma atividade espiritual e durante o raro momento de trégua da guerra, os samurais vinham às salas de chá pra relaxar e apreciar o momento.

O estilo de vida e a tradição militar dos samurais dominaram a cultura japonesa durante séculos, e permanecem vivos no Japão até os dias de hoje. Milhões de crianças em idade escolar ainda praticam as habilidades clássicas do guerreiro, entre elas a esgrima (kendo), arco-e-flecha (kyudo) e luta corporal desarmada (jiu-jitsu, aikido). Estas e outras artes marciais, fazem parte do currículo de educação física no Japão atual.

Hoje o espírito samurai continua vivo na sociedade. Através desse espírito, que o Japão é hoje uma das maiores potencias mundiais.